Thursday, January 12, 2006

INFORMAÇÃO, PODER, DOMINAÇÃO

Encontrei um referencial teórico muito oportuno para revelar um caso típico de abuso de poder social: o preconceito. Mas, ao contrário de outros casos de abuso de poder por assimetria (desequilíbrio) de informações, o preconceito é praticado por quem está em desvantagem. O preconceituoso sofre devido ao objeto de preconceito e faz o objeto sofrer. O objeto abordado aqui, personagem do cotidiano urbano e vítima da falta de clareza espiritual, é o homossexual. Heterossexuais ainda clamam superioridade ao fazerem força para manterem a sociedade nos obscuros contextos pré-Iluministas, parecidos até com a Santa Inquisição da Idade Média.

Em “Poder, anormalidade e homossexualidade. Aportes de Kinsey e Foucault”, disponível para leitura em http://www.paulobonanca.com/poderanormalidade.htm, o psicólogo e sexólogo Paulo Bonança reúne argumentos de autoridades nestes assuntos, e apresenta conclusões coerentes e oportunas.

O autor cita FOUCAULT:
"...normalidade seria uma ferramenta de dominação. Segundo Foucault, devido a este poder normalizador/dominador podemos observar através do tempo como as pessoas foram (e continuam sendo) julgadas, classificadas, condenadas, obrigadas a viver de um certo modo e até a morrer por não desistir de suas convicções";

KINSEY:
"homossexualidade seria uma variação natural da expressão sexual normal do ser humano, e que não estaria relacionada a aspectos psicopatológicos";

e conclui:
"...conhecimentos científicos que temos a respeito do tema ainda são inconcretos, e seria um erro tentar definir rigidamente a normalidade sexual. Com relação à saúde mental dos homossexuais, eles podem não ter nenhuma dificuldade psíquica e estar perfeitamente adaptados ao trabalho e a sociedade, ou por outro lado, apresentar uma ampla variedade de transtornos psíquicos exatamente igual aos heterossexuais. A perseguição e repressão da sociedade aos homossexuais, fariam uma parte da população deste grupo sofrer de distintos graus de neurose, mas estas não teriam relação com a orientação sexual, mas sim com a dificuldade que representa ser homossexual em nossa sociedade".

Observo que a condição de vítima e "refém psicológico" a que muitos homossexuais se submetem alimenta o ciclo de preconceito, pois acaba servindo de justificativa aos preconceituosos sobre como é ruim ser homossexual, e daí os preconceituosos alimentam novamente o ciclo vicioso, com teor coercitivo e alta carga psicossomática.

Acredito que o acesso a informações, a assimilação de conteúdos e o discernimento crítico aliados ao bom senso (não ao senso comum), podem possibilitar que os indivíduos interrompam ciclos viciosos e criem ciclos virtuosos.

Thursday, January 05, 2006

Satisfação (sadist fiction)

Por que eles nunca se contentam?
Por que nós nunca nos contentamos?

Não?
Nunnca?

Suficiência?

A satisfação evanesce,
fugaz
se dissolve
catalisa sistêmica
e se faz não ser percebida

vicia
nos torna crianças pedantes
e velhos ranzinzas

e tanto somos
quanto deixamos de ser
agimos
atuamos
vivemos

Crise emo?

"why does my heart
feel so bad?
why does the soul
feel so bad?"

Para que serve uma relação

Para que serve uma relação?
Martha Medeiros

Lendo a entrevista que o médico e escritor Drauzio Varela deu para a revista Marie Claire,
encontrei a definição mais simples e exata sobre o sentido de mantermos uma relação:
"uma relação tem que servir para tornar a vida dos dois mais fácil"



Vou dar continuidade a esta afirmação porque o assunto é bom e merece ser desenvolvido.
Algumas pessoas mantém relações para se sentirem integradas na sociedade,
para provarem a si mesmas que são capazes de ser amadas,
para evitar a solidão, por dinheiro ou por preguiça. Todos fadados à frustração.


Uma relação tem que servir para você se sentir 100% à vontade com outra pessoa, à vontade para concordar com ela e discordar dela, para ter sexo sem não-me-toques ou para cair no sono logo após o jantar, pregado.


Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.


Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo. Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.


Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.


Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois.