Friday, June 20, 2008

O que a Internet está fazendo com nosso cérebro?

(Artigo original por Nicholas Carr em TheAtlantic.com)

"'Dave, pare. Pare, por favor. Pare, Dave. Você vai parar, Dave?' Assim implorava o supercomputador HAL ao implacável astronauta Dave Bowman em uma cena estranhamente pungente no fim do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Quase condenado à morte no espaço profundo pela máquina defeituosa, Bowman calma e friamente desconecta os circuitos de memória que controlam o cérebro artifical de HAL. 'Dave, minha mente está indo embora', diz HAL. 'Posso sentir isso. Posso sentir isso.'", relembra Nicholas Carr em artigo publicado no The Atlantic.

Carr também sente que, de certa forma, sua mente está sendo drenada e explica: "Nos últimos anos tenho tido a desconfortável sensação de que alguém, ou alguma coisa, tem mexido no meu cérebro, remapeando meus circuitos neurais e reprogramando minha memória. Até onde posso dizer, minha mente não está indo embora, mas está mudando. Não estou mais pensando como costumava pensar. Percebo isso de forma mais evidente quando estou lendo. Mergulhar em um livro ou em um artigo mais extenso costumava ser fácil. Minha mente seria capturada pela narrativa ou pelas voltas da argumentação e eu gastaria horas passeando por longas tiradas de prosa. Esse raramente é o caso hoje em dia. Minha concentração agora geralmente começa a se esvair após duas ou três páginas. Fico inquieto, perco o fio da meada, começo a procurar algo mais para fazer. Sinto como se tivesse sempre que puxar meu cérebro desobediente de volta ao texto. A leitura compenetrada que costumava ser algo natural para mim tornou-se uma briga".

Carr suspeita ter encontrado um culpado pela situação que ele e muitos outros usuários da tecnologia digital dos computadores conectados enfrentam. "Já há uma década, passo muito tempo online pesquisando, surfando e algumas vezes incrementando o grande banco de dados que é a Internet. Como escritor, a Internet é uma dádiva dos céus para mim. Pesquisas que antes requeriam dias nas prateleiras das salas de periódicos das bibliotecas agora podem ser feitas em minutos. Algumas buscas no Google, alguns cliques em hiperlinks e encontro o fato intrigante ou citação essencial que eu queria. Mesmo quando não estou trabalhando, é bem provável que eu esteja explorando leituras na Internet e escrevendo e-mails, rastreando manchetes e artigos em blogs, assistindo vídeos e ouvindo podcasts, ou simplesmente indo de link em link".

Carr acha que, assim como para muitos, a Internet está se convertendo em um meio universal, um conduíte que transporta a maior parte da informação que entra por seus olhos e ouvidos em direção à sua mente. "As vantagens de ter acesso imediato a um repositório de informações tão rico são muitas e elas têm sido amplamente descritas e prontamente aplaudidas. 'A lembrança perfeita da memória de silício pode ser amplamente vantajosa ao pensamento', escreveu Clive Thompson, da revista Wired. Mas essa vantagem tem um preço.

Como observou na década de 1960 o teórico da mídia Marshal McLuhan, mídia não é só canais passivos de informação. Eles suprem o necessário ao pensamento, mas eles também moldam o processo de pensamento. E o que a Internet parece estar fazendo é drenar minha capacidade de concentração e contemplação. Minha mente agora espera extrair a informação da forma como a Internet a distribui: em uma rápida torrente de partículas. Houve época em que fui mergulhador no mar das palavras. Agora, surfo na superfície como alguém que se anda de jet sky".

Muito mais detalhes no extenso e altamente recomendável artigo completo de Carr: http://www.theatlantic.com/doc/200807/google